segunda-feira, 5 de maio de 2014

Psicologia na base celeste

Começamos a conversar sobre os atletas das categorias de base do futebol com um profissional que participou por quase 6 anos de um projeto de dimensão nacional que foi iniciado com uma grande paneira para a formação da seleção em todas as faixas etárias e se destacou dos demais pela preocupação com o lado humano dos jovens atletas, Gabriel Gutiérrez foi o psicólogo da seleção uruguaia e o braço direito do maestro Oscár Tabárez, técnico da celeste, no projeto da base charrua.

Gutiérrez falou primeiramente sobre o começo do trabalho e a experiência de trabalhar com os talentos da base uruguaia " A possibilidade de trabalhar com jovens sonhadores sempre é uma excelente matéria-prima para a psicologia do esporte". Os grandes objetivos do trabalho além do esportivo, eram desenvolver o caráter dos futuros atletas e fixar a idéia de que, apesar de estarem na seleção de seu país, poucos daqueles jovens iriam obter êxito na carreira esportiva, nas palavras de Gabriel " Se dividiu o trabalho solicitado pelo Maestro Oscar Tabarez em dois grandes ramos, a preparação esportiva específica e a preparação integral a que envolvia um determinado perfil de jogador na qual o estudo sempre foi preocupação constante." Para isso trazer a todos os envolvidos na vida do atleta a realidade do mundo em que apostavam suas fichas era fundamental " Conscientizar os pais de que 0,14 % dos jogadores chegam ao topo, conscientizar os atletas de que mesmo estando na seleção a probabilidade de êxito é mínima. O objetivo era trabalhar semana após semana para consolidar um perfil de educação, respeito e fair play."

No âmbito esportivo  Gutierrez trabalhava, principalmente, com objetivos de longo prazo  " demonstrar que existem aspectos, disciplinares por exemplo, que devem ser trabalhados a longo prazo. Evitar cartões, se dirigir corretamente aos àrbitros, eram alguns dos objetivos assim como a integração entre os jovens da capital com os do interior. O humor também sempre foi uma meta já que o esporte, por definição, envolve bem-estar, humor e felicidade ".

Depois de 5 anos e 7 meses à frente da base uruguaia (março de 2006 a outubro de 2011) Gutiérrez considera bons os resultados obtidos " posso assegurar que todos os jovens que passaram pela seleção tem uma boa referência global de comportamento, uma atitude treinada para lidar com a imprensa além de boa bagagem de conteúdo".

Os números publicados no texto de Lúcio de Castro"A maior revolução do futebol está no uruguai" ajudam a mostrar o impacto do trabalho desenvolvido. Do time que disputou o campeonato sul-americano sub-20 no Peru, em 2011, todos haviam completado o ensino fundamental e 10 dos 22 o ensino médio, alguns com ingresso na faculdade. Dados que nos instigam a investigar a qual distância estamos nós, o futebol brasileiro -mundial porque não?- de lembrar que antes serem jogadores os atletas da base são seres humanos em desenvolvimento.

4 comentários:

  1. No mar de desencantamento, descrença, violência e falta de perspectivas para o futebol e a sociedade de maneira geral, visando a formação do sujeito de forma integral e priorizando os valores humanos, exemplos práticos como este, quase que representam apenas uma ilha. Porém embora pareçam isolados, são estes pequenos gestos que podem servir de bons exemplos para uma sociedade mais pacífica e humana.

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    1. Primeiro, obrigado pelo comentário do blog. Que essa preocupação cresça no mundo do futebol, dos esportes, e extrapolando, até das artes.

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  2. Acho que a formação de base com estrutura já é um negócio estruturado no Brasil - imagino que o Santos seja um exemplo de êxito. Porém, apesar de ideal percebo que a meritocracia do futebol brasileiro e a preferência pelo craque às vezes é solapada pela influência de um bom empresário. Há dados compilados sobre o número de jogadores com empresário? Acho que eles poderiam dar uma boa pista de quais são os critérios de maior peso para a inserção no mercado da bola habilidade ou bons contatos. Acho que mereceria um post. Abraços

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    1. A impressão é que quase todos os garotos tem algum representante. Essa situação demonstra que, sim a influência é relevante para a sequência da carreira e com certeza vale uma conversa mais profunda sobre o tema. Outro aspecto é que no profissional ainda são muitos os jogadores que tem representantes que negociam seus contratos e isso mostra, dependendo da relação entre as partes, a dependência do futebolista.

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