quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dezoito dias após conquistar a Copa do Mundo, Alemanha bate Portugal e vence a Euro sub-19

É campeã!  O 'longo caminho para o sucesso' continua com mais um título da Alemanha nas divisões de base (Sportsfile)

     O trabalho alemão que já mostramos no blog continua mostrando sucesso. Nesta quinta-feira, a equipe sub-19 venceu Portugal por 1 a 0 e conquistou pela segunda vez a Eurocopa da categoria, jogando no estádio Ferenc Szusza em Budapeste, Hungria.
      A equipe portuguesa chegou à final com a melhor campanha do torneio, tendo perdido o 100% de aproveitamento apenas na semifinal contra a Sérvia - quando empatou por 0 a 0 e venceu nos pênaltis por 4 a 3. Já a Alemanha havia empatado na primeira fase contra a mesma Sérvia, mas estava confiante por golear a Áustria por 4 a 0 na semifinal.
     E foi essa confiança que motivou os alemães a buscar o domínio do jogo desde o início, com o meia Stendera criando duas chances de gol antes dos 10 minutos. Do outro lado, o lateral esquerdo Rafa criou a melhor chance portuguesa no jogo, com um chute no ângulo que o goleiro Schnitzler foi buscar. O arqueiro alemão também foi decisivo com saídas de gol perfeitas, à la Manuel Neuer, interceptando as jogadas em profundidade lusitanas.
De ascendência sudanesa, o meia Mukhtar
  foi o heroi da final (Sportsfile)
     O placar foi decidido ainda no primeiro tempo. Aos 39 minutos, Stendera recebeu de Öztunali pela direita e cruzou. Hany Mukhtar antecipou-se aos zagueiros e, de joelho, mandou para as redes. Foi o segundo gol na Euro do meia que joga no Hertha Berlim e tem ascendência sudanesa.
     No segundo tempo, Portugal lançou-se ao ataque. O técnico Hélio Sousa colocou em campo os atacantes Romário Baldé e Jorginho, mas a estratégia não foi suficiente para vencer a bem postada defesa alemã. Mesmo vencendo, a Alemanha não abdicou do ataque e ainda obrigou André Moreira a fazer boas defesas. 

Ivo Rodrigues (17) busca o ataque, mas para na sólida defesa alemã (Sportsfile)


      No fim, o título ficou com os germânicos, campeões já em 2008. Os 19 jogadores que compõem a equipe atuam em 16 equipes diferentes. E o mais interessante: nenhum deles é do Bayern de Munique, o maior clube alemão, e apenas o reserva Dudziak é do Borussia Dortmund, o segundo maior do país. A Alemanha termina a Eurocopa com o melhor ataque e a melhor defesa do campeonato - 12 gols marcados e apenas 2 sofridos. E, de quebra, o atacante Davie Selke foi o artilheiro com 6 gols. Definitivamente, mais uma legitimação do "Longo caminho para o sucesso".

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Euro sub-19: Alemanha goleia e está na final; nos pênaltis, goleiro dá 'revanche' a Portugal


Ivo Rodrigues (à esquerda) e Stevanovic
 (à direita) travam batalha em jogo pegado. (Sportsfile)
       Após 120 minutos apáticos, com ambas as equipes jogando com cautela, Portugal e Sérvia empataram sem gols e decidiram pela segunda vez consecutiva a vaga para a final da Euro sub-19. Novamente na disputa por pênaltis. Mas dessa vez os gajinhos conseguiram vingar a derrota do ano passado graças ao heroi Tiago Sá. O goleiro do Sporting Braga entrou no primeiro tempo da prorrogação - no lugar do machucado André Moreira - e defendeu o último pênalti sérvio cobrado por Milinkovic-Savic, sacramentando a vitória portuguesa por 4 a 3. Gacinovic, pela Sérvia, e Podstawski, de Portugal, também desperdiçaram suas cobranças.

      Mais cedo, em Budapeste, os meninos da Alemanha não tomaram conhecimento dos vizinhos austríacos e golearam por 4 a 0, em um jogo dominado do início ao fim. Aos 20 minutos do primeiro tempo, Davie Selke abriu o placar e isolou-se na artilharia do torneio com 6 gols. Dez minutos mais tarde, Stendera fez o segundo. Aos 12 do segundo tempo, Levin Öztunali (neto do histórico Uwe Seeler, atacante de quatro Copas do Mundo pela Alemanha Ocidental) ampliou e aos 22 Mukhtar fechou a conta.

Selke comemora após abrir o placar. Atacante alemão é o artilheiro da Euro sub-19 2014 (Sportsfile)

   Campeã em 2008, a Alemanha busca agora a segunda conquista na categoria, enquanto Portugal persegue o título inédito. A final da Euro sub-19 acontece na próxima quinta-feira, às 14h no horário de Brasília, no Pancho Stadium em Felcsút (a 45 km de Budapeste).

Semifinais Euro sub-19 - 28/07
Alemanha 4x0 Áustria
Portugal 0x0 Sérvia (4x3 nos pênaltis)

Final - 31/07 - 14h (horário de Brasília)
Alemanha x Portugal
Pancho Stadium, Felcsút (Hungria)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Euro sub-19: Gol heroico no fim garante Sérvia nas semifinais; Portugal segue 100%

       Tudo parecia resolvido. Precisando da vitória, a Sérvia não conseguia passar pela defesa da Bulgária, já eliminada, e as duas morriam abraçadas no grupo B da Eurocopa. Enquanto isso, a Alemanha vencia a Ucrânia por 2 a 0, com dois gols do atacante Davie Selke (agora artilheiro do torneio ao lado de André Silva de Portugal, com 5 gols) e garantia o primeiro lugar no grupo. Mas Stanisa Mandic saiu do banco para mudar a situação. Aos 45 do segundo tempo, o atacante recebeu, ganhou do zagueiro e mandou pro fundo das redes, garantindo a vitória sérvia e a classificação dos atuais campeões do torneio.

Mandic (9, ao fundo) corre para o abraço ao classificar a Sérvia,
ante a desolação de Lyubenov (12) (Sportsfile)

Húngaros agradecem a torcida na despedida do torneio (Tibor Illyes)
     Na próxima fase, os sérvios encaram Portugal, que confirmou a liderança no já decidido grupo A e manteve 100% de aproveitamento ao derrotar a também classificada Áustria por 2 a 1. O gol da vitória portuguesa foi marcado aos 41 minutos do segundo tempo pelo atacante Romário Baldé, que chegou a Hungria há apenas dois dias, convocado às pressas para substituir o lesionado Nuno Santos. Em Budapeste, a dona da casa despediu-se com honra- vitória por 2 a 1 sobre Israel, com gols de Kalmár e Balogh. Hugy descontou para os israelenses. Apesar de eliminada, a vitória foi decisiva para classificar os húngaros à próxima edição do Mundial sub-20. As semifinais acontecem na segunda-feira, com Portugal e Sérvia e o duelo entre vizinhos Alemanha e Áustria;

2ª Rodada fase de grupos
Grupo A
Áustria 1x2 Portugal
Israel 1x2 Hungria

Grupo B
Alemanha 2x0 Ucrânia
Sérvia 1x0 Bulgária

Semifinais - 28/07
Portugal x Sérvia
Alemanha x Áustria

terça-feira, 22 de julho de 2014

Gallo divulga convocados da seleção sub-20 para o torneio de Cotif

    O técnico Alexandre Gallo, das divisões de base da seleção brasileira, divulgou no fim da tarde desta terça-feira a lista com 22 jogadores para o torneio de Cotif, que acontece em agosto na Espanha. Entre os convocados estão o goleiro Marcos e os atacantes Thales e Mosquito, presentes na conquista do Torneio de Toulon em maio. Outros jogadores que atuam no campeonato brasileiro, como o meia Boschilia do São Paulo e o atacante Gabigol, do Santos, também foram lembrados e devem desfalcar suas equipes por três rodadas.

   O torneio de Cotif será realizado entre 10 e 20 de agosto em Valência e deve servir como preparatório para o Campeonato Sul-americano de 2015. A estreia brasileira acontece no dia 12, contra o Catar. Na sequência, a seleção enfrenta Equador, China e a equipe local do Valencia. Vale ficar de olho nessa equipe, pois boa parte poderá estar presente no Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.



Veja a coletiva de imprensa, realizada no Rio de Janeiro, com a convocação para o torneio de Cotif (CBF)


Confira a lista completa:

Goleiros
Georgemy – Cruzeiro
Marcos - Fluminense
Zagueiros
Igor Rabello – Botafogo
Eduardo – Internacional
Lucas – São Paulo
Marlon – Fluminense
Laterais
Auro – São Paulo
Lorran – Vasco
Pará – Bahia
William – Internacional
Meio-campo
Boschilia – São Paulo
Danilo – Braga
João Afonso – Internacional
Eduardo Henrique – Atlético Mineiro
Matheus Biteco – Grêmio
Nathan – Atlético Paranaense
Atacantes
Gabriel – Santos
Gerson – Fluminense
Kenedy – Fluminense
Mosquito - Atlético Paranaense
Thalles – Vasco
Yuri Mamute - Botafogo

Euro sub-19: Atacante brilha e Portugal avança; Capitão Stark salva a Alemanha


Atuação monstruosa de André Silva (9) garantiu os gajinhos na semifinal da competição (Sportsfile)

    O dia chuvoso na Hungria não atrapalhou os jogos desta terça-feira da Euro sub-19; aliás, contribuiu para que também houvesse uma "chuva de gols" em campo. A segunda rodada em Felcsút (nos arredores de Budapeste) foi marcada pela goleada de Portugal sobre a Hungria por 6 a 1 e a excelente atuação do atacante André Silva, jogador do Porto, que marcou quatro gols. O resultado eliminou os donos da casa e garantiu aos lusitanos uma das vagas na semifinal do torneio. Quem também carimbou a classificação pelo grupo A foi a Áustria, que mais cedo derrotou Israel por 3 a 0.

Alemanha evita derrota aos 46 do 2º tempo

     Jogando na cidade de Pápa, a Alemanha tropeçou contra a Sérvia e ficou no empate por 2 a 2. O gol salvador do capitão Niklas Stark, aos 46 do segundo tempo, manteve a invencibilidade da equipe. Assim, a Alemanha lidera o grupo B com 4 pontos, mesma pontuação da Ucrânia, que venceu a Bulgária por 1 a 0 no mesmo estádio, com gol do meia Tankovskiy. O goleiro Sarnavskiy ainda defendeu um pênalti no primeiro tempo.

Stark (4) comemora o gol nos acréscimos que salvou a Alemanha da derrota (Sportsfile)

     A próxima rodada acontece na próxima sexta-feira, restando apenas a definição do grupo B. Alemanha e Ucrânia se enfrentam e só precisam do empate, enquanto a Sérvia, que corre por fora, precisa vencer a Bulgária e torcer que alemães e ucranianos não façam um "jogo de compadres".

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Preto no branco

     Quando se fala de legislação nas categorias de base o ECA, estatuto da criança e do adolescente, é o documento a ser observado antes de qualquer outro na escala jurídica. Filho da convenção sobre os direitos da criança, oficializada como lei internacional em 90, o ECA é do mesmo ano e segue os mesmos princípios que são os da doutrina da proteção integral, em palavras bem simples, segundo os dois documentos a criança deverá estar integralmente protegida durante o seu desenvolvimento como ser humano.

     Sobre o assunto conversamos com Raquel Custódio, advogada militante na área cível e desportiva, membro da comissão de direito desportivo da OAB/São Paulo e presidente do tribunal de justiça desportiva da 21ª subseção da OAB, "a legislação protetiva da criança e do adolescente é recente. Hoje nós temos a doutrina da proteção integral, antigamente a criança era vista como objeto e hoje é vista como sujeito de direito", explica Raquel. Logo, antes de ser um jogador com potencial, um futuro craque, o cara que vai limpar o nome do futebol brasileiro do fiasco do 7 x 1, a criança é, nos termos da lei, apenas uma criança. 

     Fazer com que a criança e o adolescente seja vista de tal forma no mundo do futebol é uma missão que vai demandar trabalho e tempo, mas a advogada percebe alguma evolução nesse sentido "hoje nós estamos falando dos direitos da criança é uma coisa recente, da década de 90, hoje se pensa na criança, antes não se pensava", comemora Raquel.

Raquel Custódio, militante dos direitos da criança no futebol
Foto/Arthur Sales
     Por outro lado, nas normas da FIFA e das suas filiadas - CBF e federações estaduais - o que aparece como prioridade é a regulamentação do mercado de futebolistas e apesar dos avanços as regras para as transferências internacionais de menores ainda são quebradas com frequência "proíbe transferências internacionais? Certo. Mas eu sei que existe, por que não tem fiscalização? A fiscalização tem que ir nos clubes europeus, nos grandes, não nos pequenos. Todo mundo sabe que o Messi foi para lá com 12 anos, não poderia. Existe esse regramento, mas com uma fiscalização meio que de olhos fechados, você não consegue provar nada", reclama. Sobre os mecanismos de indenização a falta de exigências para que um clube receba os valores referentes aos anos da formação do jogador evidencia a pouca preocupação com o tema "para receber as indenizações que estão previstas nos regulamentos da FIFA, o clube não precisa ser formador nos termos da lei basta que se comprove que ele esteve vinculado com o clube no período", descreve Raquel. 

     No Brasil além do ECA, e abaixo dele na hierarquia das leis, o certificado de clube formador(CCF) é uma alteração na lei Pelé que age mais diretamente na vida dos jogadores da base. O instrumento, do início de 2012, lista uma série de pré-requisitos para que o clube seja considerado como formador e preenchidas as condições ele fica protegido por uma multa, caso o seu atleta escolha assinar o seu primeiro contrato de trabalho com uma instituição que não a sua o clube formador é ressarcido, mas Raquel é cética em relação ao CCF "acho que nós teríamos que ter outras formas de controle por que na verdade nenhum clube tem a obrigação de ser clube formador", lamenta. Além da não obrigatoriedade a alteração da lei mantém a lógica de objetificar os jovens jogadores.

     Tampouco a fiscalização é adequada. A emissão desses certificados fica por conta das federações estaduais e é sabido que, essencialmente nos clubes pequenos, não existe recursos para garantir assistência médica, odontológica, psicológica, exigidos pela lei, muitas vezes esses profissionais prestam serviços "para inglês ver", como destaca o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac "boa parte dos clubes acaba tendo um psicólogo que só assina ali a carteira e vai de vez em quando e tal mas não são profissionais que tem a qualificação, a compreensão, a vivência para trabalhar no esporte".

     A preservação dos direitos da criança e do adolescente é um tema que enfrenta muitas barreiras, mais reais que legais, sobretudo no futebol, afinal "não é interesse dos grandes, das pessoas que lucram com isso, trazer o assunto à tona", conclui Raquel Custódio.

     
Fontes: 

sábado, 19 de julho de 2014

Europeu sub-19 - começo da fase final

     Depois da disputa das fases classificatórias o europeu sub-19 chegou à sua reta final, que será sediada na Hungria. A primeira rodada teve como destaque as seleções da Alemanha, de Portugal e da Áustria, os alemães estrearam com vitória sobre a Bulgária, 3 x 0, mesmo placar de Portugal x Israel, com vitória lusitana, já a Áustria venceu a anfitriã Hungria por 3 x 1, na outra partida da rodada Ucrânia e Sérvia, atual campeã, empataram por 1 x 1. Depois dos primeiros jogos Portugal divide a liderança do grupo A com a Áustria, ambos com três pontos, Hungria e Israel tem zero, no grupo B a primeira colocada é a Alemanha, com três pontos, Ucrânia e Sérvia tem um, e a última colocada é a Bulgária, com zero.

Marcos Lopes, autor de dois gols na vitória de Portugal - Foto: Uefa.com/©Sportsfile
     As equipes disputarão a segunda rodada na terça-feira, pelo grupo A jogam Áustria x Israel e Portugal x Hungria, pelo grupo B, Alemanha x Sérvia e Bulgária x Ucrânia, a primeira fase termina no dia 25. Os dois primeiros de cada grupo se classificam para as semi-finais, dia 28, sendo a final realizada no dia 31 de julho.

Fonte:
Uefa.com

Recalculando

     Quem leu o post "Voltamos!" viu que na visão do Indústria de base o futebol brasileiro tem muito mais do que quatro anos de trabalho pela frente para voltar a ser a principal força do futebol mundial, começando um projeto alinhado com o que acredita-se aqui no IB ser o pensamento ideal para o futebol brasileiro o alvo seria 2022. Contudo, levando em conta o que foi dito no último post, que o buraco é muito mais embaixo e a formação de todos, repito, de TODOS os profissionais envolvidos deve ser aperfeiçoada, e tudo o que foi conversado em mais de duas horas de bate-papo com principal parceiro intelectual do blog Carlos Thiengo, mestre em Ciências da motricidade, foi necessário assumir que a previsão deve ser recalculada.

     A entrevista coletiva de apresentação do novo staff da seleção indica que a maneira com que se enxerga o futebol continua a mesma. Incomodou o apontamento de resultados na base como sinônimo de bom trabalho, a visão de que independente de qualquer coisa aqui nascem os melhores jogadores, que 2018 é o prazo máximo que se pode colocar para o projeto e que a melhor questão, ou talvez mais pertinente, veio não de um jornalista brasileiro, mas de uma alemã. Ela perguntou sobre a importância dos clubes e as respectivas bases no projeto que se inicia com a nomeação de Gilmar Rinaldi. 

     O melhor jogador do mundo é o brasileiro? Para Carlos o fato de o Brasil ser o país que pratica o futebol de maneira massificada mais populoso do mundo - China, Índia, Estados Unidos e Indonésia, os mais populosos, não o fazem de maneira massificada - ajuda a explicar esse fenômeno, se ele estiver certo nossos dias como país hegemônico no futebol estão contados. Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP e da Escola de Enfermagem da UFMG, repercutida pelo blog da urbanista Raquel Rolnik, mostra que a prática do futebol vem perdendo espaço para os treinos nas academias de musculação e ginástica, ou seja, teremos menos meninos na base para alimentar o topo da pirâmide, a seleção. A explicação, segundo o post e a pesquisa, está no "aumento do poder aquisitivo da população e da diminuição dos espaços públicos disponíveis para a prática de futebol", mas independente do motivo a tendência é que cada vez menos "Neymares" surjam nas nossas cidades, contrariando a crença de Gallo de que além de todo o trabalho que será feito teremos o plus do talento do jogador nascido no país. 

Arthur Sales e Carlos Thiengo/ Foto: Mariana Conrado
     Essa visão de que aqui, por alguma força divina, nascem os melhores jogadores do mundo é há tempos vendida e nós, em maior e em menor grau, acreditamos nisso, na evolução do pensamento humano, esse é o primeiro passo para explicar os fenômenos que vemos ao nosso redor. Transportando o pensamento humano para o futebol, começamos a sair do misticismo depois do mundial da Inglaterra, "quando o Brasil perde a copa em 66 questiona-se o modelo de atleta brasileiro, lá o futebol força assume, aí nós (a educação física) entramos no futebol com o discurso de melhorar a condição atlética",explica Carlos, é notável como o Pelé de 70 era uma máquina, o filme Pelé Eterno mostra que o grande objetivo do rei era estar voando no México e ele o atingiu com louvor. 

     Nossa roda de discussão mostrou um Carlos menos desiludido e mais otimista do que eu com questões que levantam discussões morais, como a nomeação de um ex-(recente)agente como coordenador das seleções, ele enxerga que assim como na política onde o "torturador e o torturado convivem no congresso hoje" é possível militar pelo futebol com cenário semelhante, mas mostra preocupação com a possível disputa entre o velho e o novo "é óbvio que em qualquer campo social existe uma disputa de poder entre o novo e o velho, o constituído e o aspirante, e nesse processo existe muita resistência. Quem está em cima não quer perder aquele espaço, principalmente um meio de alta visibilidade e reconhecimento social que é o futebol", conclui. O momento atual pede espaço para o novo, estar apenas inteiro fisicamente, como Pelé em 70, já não é suficiente.

     Por isso quando a pergunta é "quem deveria ser o novo técnico da seleção?" não existe resposta. O assunto não é "a, b ou c, é o modelo de pensamento predominante que está sendo questionado", diz Carlos, para ele não é hora de procurar nem Judas nem Messias. O modo como pensamos futebol, e aqui vou tomar a liberdade para traduzir o que entendi dessa conversa, é o de isolar as áreas de conhecimento, se determinado jogador ou equipe não responde é por que está mal tecnicamente, OU fisicamente, OU psicologicamente e nunca E, não se enxerga relação entre as partes é a visão biológica do jogador, o ser humano como animal. O jogador deve, e já é em algumas escolas, ser visto como um ser humano, a fragilidade técnica pode derrubar seu psicológico, uma mente forte pode fazer de um futebolista normal o cara que vai decidir o jogo. Por que na pelada o fôlego parece infinito quando o seu time está goleando e é tão difícil dar um pique com 7 a 1 no lombo? A visão humana do futebol explica. 

     Contando então que muita água vai passar nessa ponte até que estejamos prontos para construir um projeto de longo prazo. Tenho a esperança de ver em 2030, 2034, uma seleção nacional fruto de um trabalho que veja o jovem jogador como um ser humano que inserido no futebol depende dele para se desenvolver como tal e que entenda que a qualidade desse desenvolvimento vai afetar, para o bem ou para o mal, a sua vida adulta dentro ou fora do mundo da bola. 

Observação: Em meio à tanta discussão sobre o futuro do futebol, o feminino, ou praticado por mulheres como prefere Carlos, continua esquecido. 

Fontes:
Brasil: Quantos mais Copa do Mundo, menos futebol?
http://raquelrolnik.wordpress.com/2014/06/27/brasil-quanto-mais-copa-do-mundo-menos-futebol/

Programa Juca entrevista - Prof. Manuel Sérgio, "Pai" da Ciência da motricidade humana que teve como grande pupilo o treinador José Mourinho.
https://www.youtube.com/watch?v=88o2SqMTKKc

Filme: Pelé Eterno - Aníbal Massaini Neto (2004)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Voltamos!

    Até tentamos manter uma regularidade razoável mas à medida em que a Copa vai avançando fica impossível dividir a atenção com qualquer que seja o assunto. Ver nos gramados as diversas maneiras de trabalhar e pensar o futebol sendo aplicadas e testadas é o que nos move, era momento de curtir a grande festa. Depois de mostrar o trabalho dos alemães, agora tetracampeões do mundo, segue a visão do blog sobre o que foi o mundial para o futebol brasileiro já que a base será pauta obrigatória para quem quiser discutir o que será dele daqui para frente. Mas antes de voltar ao nosso tema principal, que são as categorias de base e a maneira como os jovens são vistos mais como mercadoria do que como gente, é impossível não dar uma passadinha pelo que aconteceu com a seleção na copa.

     O que se mostra mais claro foi o atraso da comissão técnica brasileira e, apesar de considerar injusta qualquer crítica à distância (não estive em nenhum treino na granja comary e em nenhuma partida da seleção durante o mundial), chego à essa conclusão por duas declarações do Felipão na histórica entrevista um dia depois do 7 a 1 na granja. Primeiro a que exime a direção da CBF de qualquer culpa, para Luiz Felipe toda a estrutura necessária foi dada, logo faltou algo ou da comissão ou dos jogadores, para mim da comissão, a segunda, a surpresa pelo bom preparo das outras seleções, para Scolari as outras equipes estavam melhor do que eles imaginavam, impossível não ver estranheza nessa fala. Atraso, despreparo, posto à mesa a pergunta que se faz é por que a seleção era comandada por uma comissão técnica atrasada tendo o país tamanha tradição nesse esporte?

     A resposta mais óbvia, e também certeira, vem da estrutura do futebol brasileiro comandado desde sempre pelos mesmos cartolas na CBF e nas federações, o modelo anti-democrático não faz com que quem está no poder se sinta pressionado a fazer um bom trabalho, mas todo esse atraso, aí já não falo da comissão técnica mas do futebol brasileiro de maneira geral, escancarado depois do 7 a 1 pode ser atribuído também ao pensamento, ao mito construído ao longo de muitos anos de que o Brasil é o país do futebol, e em se falando do esporte tudo aqui é melhor do que em qualquer parte de planeta.

     Essa crença fez com que a maneira de pensar o jogo e tudo que o envolve não evoluísse da maneira adequada e a conta deve ser dividida com todos que ajudaram a alimentar esse mito, jornalistas e profissionais da publicidade principalmente, que até o 7 a 1, salvo poucas exceções, não abriram mão desse discurso para colocar o Brasil como o grande favorito à conquista do mundial. Logo a "grande mudança" necessária para que o Brasil volte, não só a ter uma equipe competitiva, mas um futebol do tamanho que merece em todos os níveis deve vir da base, e ainda não falamos focadamente nas categorias de base, e sim da formação de todos os profissionais envolvidos com o futebol.

     Voltando a falar do jornalismo, vi o total desrespeito com o ser humano Luis Felipe Scolari quando um repórter - se é que dá para chamar de repórter - na coletiva pós Brasil 0 x 3 Holanda pergunta se foi o jogo da "laranja contra o bagaço",para mim, flagrante da falta de ética, comprometimento e sensibilidade, "chutar cachorro morto" é muito fácil, é covarde, e se falta qualidade até em quem cobre (dá para discutir o exemplo citado, esse para mim foi a gota d'água, de qualquer maneira vi muito material superficial e fora de contexto de profissional que está lá para fazer a cobertura e não programa humorístico), isso mostra que o buraco é muito mais embaixo.

     Agora voltando a falar de base, do futebol de base, que nos meninos que já, já, serão homens não seja colocado o peso de salvar o futebol brasileiro e caso seja feito algum trabalho de longo prazo que eles não sejam vistos como objeto, os peões que bem utilizados podem levar o país ao hexa, hepta... e que a lógica de descarte, que é a visão que este que escreve tem sobre a base do Brasil, seja deixada de lado. Um trabalho de longo prazo em tudo o que envolve o futebol, e aí dá para sonhar que isso seja extrapolado para o esporte de maneira geral, tem o potencial de desenvolver o pais, para isso tudo deve estar funcionando, um projeto dessa magnitude e com essa visão demora para dar frutos, o menino que entra agora no sub-15 de um clube vai estar no auge do seu futebol daqui a 10 - 12 anos, são três Copas do Mundo, quem na imprensa vai ter a paciência ou o senso crítico para analisar o trabalho e não o resultado? qual dirigente vai querer o ônus dos possíveis maus resultados desse período?

Arthur Sales -  Indústria de Base

segunda-feira, 14 de julho de 2014

"O longo caminho para o sucesso"

Com um gol aos 7 minutos do segundo tempo da prorrogação contra a Argentina, Mario Götze encerrou o jejum de 24 anos da Alemanha em Copas do Mundo e colocou a Mannschaft junto a Brasil e Itália no rol de tetracampeões mundiais. O título alemão coroa mais de uma década de planejamento e organização da qual Götze e seus companheiros fizeram parte e que já havia levado o país ao terceiro lugar nas duas últimas copas e a um vice-campeonato europeu.

Um dos símbolos desta geração alemã, Mario Götze virou talismã imprescindível na final da Copa (Arquivo pessoal)

Em 2004, então vice-campeões mundiais, os germânicos fizeram uma campanha desastrosa na Eurocopa e acabaram sendo eliminados na primeira fase, com direito a empate por 0x0 com a modesta Letônia. Aquela equipe contava com o já experiente Miroslav Klose e os jovens Philipp Lahm, Bastian Schweinsteiger e Lukas Podolski.
O fiasco na Euro fez a Federação Alemã de futebol (em alemão, Deutscher Fussball-Bund - DFB) investir ainda mais num plano de fortalecimento das bases e descoberta de novos talentos, cujo embrião havia se iniciado em julho de 2002, com o então presidente Gerhard Mayer-Vorfelder. Parte da renda arrecadada nos sempre lotados jogos da Bundesliga serviram para financiar centros de formação de jogadores por todo o país. O projeto a longo prazo ganhou maior força quando Matthias Sammer assumiu o cargo de diretor esportivo,  em abril de 2006, a apenas dois meses da Copa na própria Alemanha. Naquela edição, Klose, Lahm, Schweinsteiger e Podolski conquistaram o bronze em casa, tendo Joachim Löw como auxiliar técnico.

Matthias Sammer, ex-diretor esportivo da DFB e um dos principais responsáveis pelo atual projeto vitorioso alemão (Getty Images)

Ilustração mostra a integração entre federação,
associações, clubes e escolas (Montagem/DFB)
Sammer, ex-zagueiro e técnico do Borussia Dortmund, esteve presente no último título que a Alemanha havia conquistado - a Euro 1996 - e soube como ninguém dar continuidade ao trabalho na base. Ele implementou o conceito chamado “Longo caminho para o sucesso” (Der weite Weg zum Erfolg), que passou a estimular desde muito cedo a formação de futuros atletas. Crianças entre 3 e 6 anos são incentivadas a atividades físicas apropriadas, como primeiro passo para a descoberta de um atleta. Dos 7 aos 11 anos, os pequenos recebem noções básicas de futebol e princípios de competitividade. O treinamento aprimora as técnicas do jogo entre os 12 e 15 anos, até tornar-se mais específico e competitivo dos 16 aos 19 anos.
Para que o conceito funcione, a federação construiu cerca de 400 centros de treinamento por toda Alemanha e gasta anualmente cerca de 10 milhões de euros para qualificar 20 mil professores e escolas. Além disso, todo clube filiado à DFB deve ter sua academia de futebol com estrutura física adequada e profissionais para cada equipe de base, como preparadores físicos, psicólogos, preparadores de goleiros e equipe médica; do contrário, a agremiação não obtém licença para atuar nas ligas profissionais. Treinadores realizam um curso de 10 meses como requisito para atuar na Bundesliga – 1.200 já foram formados.


Equipe campeã europeia sub-21 em 2009 tinha seis
 jogadores agora campeões do mundo (Getty Images)
       Em condições semelhantes de infraestrutura e até mesmo de filosofia tática, as seleções de base produziram o primeiro grande retorno entre 2008 e 2009, quando a Alemanha dominou os campeonatos europeus, do sub-17 ao sub-21. Nove dos vinte e três jogadores que acabam de conquistar o tetra no Brasil estavam nessas equipes, como Manuel Neuer, Mats Hummels, Mesut Özil e Sami Khedira, o capitão do sub-21.

Já Mario Götze fazia parte da vitoriosa equipe do sub-17. O título europeu em 2009 lhe valeu a promoção à equipe principal do Borussia Dortmund e na temporada seguinte (2010-2011) o meia ajudou o time a sair da crise e a conquistar o bicampeonato da Bundesliga, terminando um jejum de 9 anos - o último título havia sido comandado pelo então técnico Mathias Sammer. Ano passado, ao trocar a equipe aurinegra pelo rival Bayern de Munique, Götze foi chamado de traidor e ganhou o apelido de “Judas”. Mas, neste domingo, Götze certamente fez os torcedores aurinegros explodirem de felicidade novamente, junto a um país que há 18 anos estava sedento por títulos.
O futebol agradece os frutos plantados na década passada por Mayer-Vorfelder (atual presidente honorário) e Sammer (hoje diretor no Bayern de Munique – deixou a federação em 2012) e que são colhidos agora. Cabe a Ulf Schott, atual diretor esportivo da DFB, dar continuidade ao trabalho de excelência na busca por gerações talentosas, que cada vez mais ameaça a hegemonia histórica brasileira.