Com um gol aos
7 minutos do segundo tempo da prorrogação contra a Argentina, Mario Götze
encerrou o jejum de 24 anos da Alemanha em Copas do Mundo e colocou a Mannschaft junto a Brasil e Itália no
rol de tetracampeões mundiais. O título alemão coroa mais de uma década de
planejamento e organização da qual Götze e seus companheiros fizeram parte e que
já havia levado o país ao terceiro lugar nas duas últimas copas e a um
vice-campeonato europeu.
Um dos símbolos desta geração alemã, Mario Götze virou talismã imprescindível na final da Copa (Arquivo pessoal) |
Em 2004, então
vice-campeões mundiais, os germânicos fizeram uma campanha desastrosa na Eurocopa e acabaram sendo eliminados na primeira fase, com direito a empate por 0x0 com a modesta
Letônia. Aquela equipe contava com o já experiente Miroslav Klose e os jovens Philipp
Lahm, Bastian Schweinsteiger e Lukas Podolski.
O fiasco na
Euro fez a Federação Alemã de futebol (em alemão, Deutscher Fussball-Bund - DFB) investir ainda mais num plano de
fortalecimento das bases e descoberta de novos talentos, cujo embrião havia se iniciado
em julho de 2002, com o então presidente Gerhard Mayer-Vorfelder. Parte da
renda arrecadada nos sempre lotados jogos da Bundesliga serviram para financiar centros de formação de jogadores por todo o
país. O projeto a longo prazo ganhou maior força quando Matthias Sammer assumiu
o cargo de diretor esportivo, em abril
de 2006, a apenas dois meses da Copa na própria Alemanha. Naquela edição, Klose,
Lahm, Schweinsteiger e Podolski conquistaram o bronze em casa, tendo Joachim
Löw como auxiliar técnico.
Matthias Sammer, ex-diretor esportivo da DFB e um dos principais responsáveis pelo atual projeto vitorioso alemão (Getty Images) |
Ilustração mostra a integração entre federação, associações, clubes e escolas (Montagem/DFB) |
Para que o
conceito funcione, a federação construiu cerca de 400 centros de treinamento por
toda Alemanha e gasta anualmente cerca de 10 milhões de euros para qualificar
20 mil professores e escolas. Além disso, todo clube filiado à DFB deve ter sua
academia de futebol com estrutura física adequada e profissionais para cada
equipe de base, como preparadores físicos, psicólogos, preparadores de goleiros
e equipe médica; do contrário, a agremiação não obtém licença para atuar nas
ligas profissionais. Treinadores realizam um curso de 10 meses como requisito para
atuar na Bundesliga – 1.200 já foram
formados.
Em condições semelhantes de infraestrutura e
até mesmo de filosofia tática, as seleções de base produziram o primeiro grande
retorno entre 2008 e 2009, quando a Alemanha dominou os campeonatos europeus,
do sub-17 ao sub-21. Nove dos vinte e três jogadores que acabam de conquistar o
tetra no Brasil estavam nessas equipes, como Manuel Neuer, Mats Hummels, Mesut Özil
e Sami Khedira, o capitão do sub-21.
Equipe campeã europeia sub-21 em 2009 tinha seis
|
Já Mario Götze
fazia parte da vitoriosa equipe do sub-17. O título europeu em 2009 lhe valeu a
promoção à equipe principal do Borussia Dortmund e na temporada seguinte
(2010-2011) o meia ajudou o time a sair da crise e a conquistar o bicampeonato
da Bundesliga, terminando um jejum de
9 anos - o último título havia sido comandado pelo então técnico Mathias
Sammer. Ano passado, ao trocar a equipe aurinegra pelo rival Bayern de Munique,
Götze foi chamado de traidor e ganhou o apelido de “Judas”. Mas, neste domingo,
Götze certamente fez os torcedores aurinegros explodirem de felicidade novamente,
junto a um país que há 18 anos estava sedento por títulos.
O futebol agradece os frutos
plantados na década passada por Mayer-Vorfelder (atual presidente honorário) e
Sammer (hoje diretor no Bayern de Munique – deixou a federação em 2012) e que são
colhidos agora. Cabe a Ulf Schott, atual
diretor esportivo da DFB, dar continuidade ao trabalho de excelência na busca
por gerações talentosas, que cada vez mais ameaça a hegemonia histórica
brasileira.
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