quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Na vitória ou na derrota, o começo da glória

    Era a final do campeonato municipal, mas os meninos do sub-15 de São José e Cruzeiro, equipes do futebol amador de Itanhaém (cidade do litoral paulista, a 100 km de São Paulo), encaravam a partida como se ela fosse final de mundial. Afinal de contas, vencer o torneio era parte inicial de seus planos de vencer na vida e vingar no esporte.


Enfrentando obstáculos: Alexandre se posiciona
 para tentar vencer a barreira e o campeonato (Foto: Matheus Moura)

      Logo no começo, o São José abriu vantagem com um belo gol de falta do meia Alexandre, camisa 10 e capitão da equipe. Com a canhota, o garoto mostrou que sabe conduzir a pelota como demanda a mística do número que carrega. "Comecei no salão e foi assim que fui desenvolvendo", explica, sucinto, a origem de seu talento. Tímido com as palavras, o garoto prefere se expressar com a bola nos pés.

    Ele ainda teve a chance de fazer mais um gol em outra cobrança de falta, mas a bola caprichosamente beijou a trave. Antes disso, o Cruzeiro havia chegado ao empate, com Leozinho. O placar era o termômetro exato da partida. Depois de eliminarem outras sete equipes da competição, São José e Cruzeiro faziam um jogo parelho, com chances para os dois lados, as defesas nervosas e atentas ao menor perigo de gol. Tamanha igualdade só poderia levar a decisão para os pênaltis.
Alexandre (ao centro) ergue a taça de campeão do sub-15 municipal:
pequena etapa vencida na carreira (Foto: Matheus Moura)
    
     E nas penalidades a igualdade também imperava. Só depois de 18 cobranças foi que o placar se definiu em 8 a 7 - graças a uma defesa do goleiro Matheus - e o título ficou com os meninos do São José, do promissor Alexandre.

     A loteria dos pênaltis impediu que o troféu de campeão parasse nas mãos do capitão Matheus, meio-campista do Cruzeiro. Virtuoso, ele conduziu sua equipe no tempo normal, mostrando ser um líder digno da braçadeira. Ao receber a premiação pelo vice-campeonato, Matheus discursou emocionado pela união da equipe e mostrou bons traços de humildade e até uma certa maturidade. "A gente tem que aprender com essa derrota, não é sempre que ganha. Hoje nós perdemos, mas amanhã podemos ganhar", diz. "Vamos subindo essa escada, degrau por degrau, que um dia nós conseguiremos", finaliza.

      Com 15 anos, os garotos já não contam tanto com o apoio dos pais na arquibancada, talvez por serem adolescentes a meio caminho da independência. Mas Helenice Andrade, mãe do cruzeirense Matheus, faz questão de quebrar esse paradigma. Na "cadeira cativa" pelo sucesso do garoto, ela era um dos poucos familiares presentes na arquibancada do campo do Palestra. "Eu tento vir nos jogos, assisti-lo e dar o apoio que esteja ao meu alcance", diz. Moradora do Jardim Tropical, bairro simples de Itanhaém, Helenice sabe que o caminho que seu filho precisa percorrer para se tornar um jogador de futebol é difícil. "É um sonho dele, ele é apaixonado por futebol, mas nós temos consciência da realidade, que não é fácil. Só que tem que correr atrás. Se não fizer isso não dá pra saber se vai dar certo ou não", explica.


Com o troféu de vice nas mãos, Matheus discursa aos seus companheiros
 e mostra ótimos sinais de liderança aos 15 anos (Foto: Matheus Moura)

       Estudante do primeiro ano do ensino médio, Matheus concilia com boas notas os estudos e os treinos no Cruzeiro. Bem instruído pela família, ele já sabe o que vai fazer caso a carreira no futebol não vingue. Irá cursar Educação Física, pois não quer ficar longe do esporte.

Após a derrota, Anilton Lima (à direita, de boné preto)
 agradece a união da equipe (Foto: Matheus Moura)
     Parte dessa consciência deve ser creditada ao trabalho de Anilton Lima. Enquanto os meninos do São José comemoravam o título, o treinador do Cruzeiro reuniu seus comandados no gramado para dizer que o mais importante não era vencer, mas perceber a evolução deles. "O meu trabalho aqui com os meninos não é só formar campeões, é formar cidadãos. Se a gente conseguir (formar) pessoas que saibam o que é certo e o errado e serem pessoas de bem, eu já estou muito feliz com isso. E com certeza vão surgir grandes homens", orgulha-se. Reflexo disso foi o reconhecimento da equipe como a mais disciplinada do campeonato.
   
     Entre vitoriosos e derrotados, uma coisa é certa: Se depender de cada um, esta foi apenas uma pequena etapa de suas carreiras. Uma etapa carregada com lições vistas em 2014 por poucas testemunhas no modesto campo do Palestra, mas que no futuro podem inspirar outras vistas por milhares na grandes arenas do futebol.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Com falha de goleiro e jogo coletivo, seleção olímpica vence segundo amistoso

     Três dias após vencer a seleção principal da Bolívia por 3 a 1, a seleção olímpica do Brasil voltou aos gramados na noite desta segunda-feira. No estádio nacional Mané Garrincha, em Brasília, os comandados de Alexandre Gallo bateram a seleção olímpica dos Estados Unidos por 3 a 0, com gols de Luan (Grêmio), Douglas Coutinho (Atlético-PR) e Vinícius Araújo (Valência-ESP).


Com baixo número de torcedores, vistos ao fundo, equipes entram no gramado do Mané Garrincha (Reprodução: Twitter US Soccer)



      Diferente do amistoso de sexta-feira, quando decidiu a partida logo na primera etapa, a seleção brasileira precisou de mais tempo para ter de fato a vitória nas mãos. Apesar disso, abriu o placar logo aos dois minutos de partida, quando o goleiro estadunidense Cody Cropper se enroscou em uma bola recuada. Luan aproveitou para roubar, fintar o arqueiro e empurrar para as redes.
       Apesar do gol, a equipe comandada por Tab Ramos (aquele agredido por Leonardo na Copa do Mundo de 1994) criou oportunidades, mas faltou qualidade para aproveitá-las. A grande chance veio aos 12 minutos do segundo tempo, quando o meia Oscar Sorto cruzou e Mario Rodriguez bateu à queima roupa para grande defesa de Andrey. O goleiro reserva do Botafogo foi bem quando exigido, inclusive nas saídas de gol para afastar o perigo na intermediária.
     Com mais posse de bola, a seleção brasileira criou mais chances na segunda etapa, motivada pelas entradas de Felipe Gedoz (Standard Liège-BÉL) e Vinícius Araújo. Aos 29, o atacante do Valência fez a jogada do segundo gol, ao trazer os defensores para a lateral do campo e cruzar para Douglas Coutinho, que livre, fuzilou Cropper.
     A partir daí, só deu Brasil. Com velocidade, a equipe chegava bem pelas laterais. O meia Fred (Shakhtar Donetsk-UCR) também trouxe mobilidade ao meio campo e participou do golpe de misericórdia, aos 36 minutos. Felipe Gedoz tocou para Fred, que fez o corta-luz e deixou a bola livre para Vinícius Araújo, sem impedimento, dar números finais ao jogo. Cropper ainda fez boas defesas que impediram uma goleada maior.
     A boa apresentação brasileira deixou satisfeitos os pouco mais de 10 mil espectadores presentes no estádio Mané Garrincha (foram colocados à venda 22 mil ingressos), que provavelmente viram a última partida da seleção olímpica no ano. A CBF não deve marcar amistosos para a equipe na data Fifa de novembro, possivelmente por conta da insatisfação dos clubes brasileiros com os desfalques no campeonato nacional, como informou ontem Marcel Rizzo na Folha de São Paulo.