sexta-feira, 23 de maio de 2014

Campo x Classe

Um dos grandes desafios na vida de um atleta de base é conciliar a rotina de treinos e jogos com os estudos, na maioria das vezes as aulas são no período noturno e o gasto com escolas particulares não está dentro do orçamento nem do clube, nem da família. A efemeridade da vida de quem a cada seis meses pode mudar de endereço é outra dificuldade comum no cotidiano dos jovens futebolistas. Essas circunstâncias permitem colocar a formação educacional no rol de problemas estruturais das categorias de base no Brasil. Pouco existe no país a preocupação com o impacto que a vida de atleta terá na vida escolar e a última normalmente fica em segundo plano.

Danilo Claro de Assis, de 26 anos e natural de Cabrália Paulista(360 Km de São Paulo), passou ao longo de cinco anos por quatro clubes diferentes. Ele explica como era a vida dividida entre aulas e treinos "Por conta dos treinamentos só dava pra ser matriculado no período noturno, e tudo em escola publica pois tinha que ser a mais próxima do alojamento onde os atletas ficavam". Ele também revela que dentro da escola, por sua condição, os atletas contavam com a colaboração dos professores  "é um pouco impossível você encontrar uma escola pública no período noturno onde você consegue absorver algum conhecimento. As aulas eram bem fracas e com desinteresse tanto dos alunos como dos professores, que por  sermos atletas dos clubes até ajudavam a gente nas notas ". A falta de cobrança acabava abrindo brechas e afastando alguns atletas do colégio "vi muito atleta passar de ano sem conhecer o prédio da escola", conta Danilo.

Depois de se lesionar próximo a data de testes para ingressar na equipe do Joinville, Danilo aproveitou para se dedicar integralmente aos estudos "quando pensei que não iria dar para ficar no Joinvile me vi sem clube e sem estudos, pois estudei em 6 escolas diferente no meu ensino médio, e essas mudanças atrapalhavam bastante o aprendizado. Foi quando aproveitei o tempo parado por conta da lesão, fiz um semi extensivo em um cursinho em Bauru e consegui passar na Unesp", diz. Danilo não tentou ingressar em nenhum outro clube depois de aprovado no curso de educação física .

É quase inevitável que em algum momento o atleta da base tenha que escolher entre apostar na carreira ou seguir estudando, lembrando que por carências sociais há os que não tem essa segunda opção. Para os atletas que tem condições porém, abrir mão não é obrigatório, Patrick Felipe, o meia que disputou a Copa São Paulo pelo Aquidauanense-MS, comentou na época do torneio que além da expectativa de ser descoberto na competição estudava a possibilidade de ingressar em uma faculdade norte-americana com bolsas oferecidas para atletas estrangeiros.Os programas não são alternativas viáveis para todos os atletas, pois os valores cobrados pelas empresas que oferecem os jogadores para as instituições são excludentes, apenas os honorários pelo serviço oferecido nos pacotes mais básicos custam R$ 4 mil reais.

Quem pode arcar está fazendo da escolha uma têndência como conta Luciano Brunetti Virgílio, sócio de uma empresa que agencia atletas-estudantes "Está cada vez mais comentado o assunto entre os jogadores de base, devido a alta competitividade que existe no Brasil eles se aventuram em fazer faculdade e jogar nos Estados Unidos. Se o atleta se destacar durante os 4 anos, ganhar premiações dentro de campo e academicas ele pode ser convidado para fazer o draft(como na NBA) e depois ser selecionado por alguma equipe profissional", explica.

As estruturas educacionais de nível superior do Brasil e dos Estados Unidos possuem muitas diferenças não há como fazer uma comparação simplista e muito menos "copiar" um modelo tão diferente, mas encontrar uma maneira de adaptar essa estrutura, que possibilita o desenvolvimento educacional e esportivo, ao futebol de base nacional já nos níveis básico e médio é pauta urgente para o futuro dos nossos jovens craques.

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